sexta-feira, 6 de abril de 2012

A história da Bugatti.

 
Ettore Bugatti nasceu em 1881 na famosa cidade italiana de Milão. Sim, Bugatti era italiano, apesar de  ter construiído a sua vida e a sua famosa empresa em França. Nasceu num ambiente que seria decisivo para seu futuro: uma família de artistas. Embora tivesse nascido, também, com aquela indefinida característica genética que causa o entusiasmo pelo automóvel, o meio artístico em que nasceu e foi criado teria uma profunda influência em sua vida. O pai de Ettore, Carlo Bugatti, é até hoje famoso por sua mobília artística. Desde novo, apresentou aptidão para a mecânica. Aos 18 anos abandonou a Escola de Belas Artes de Milão,  para desgosto do pai, e foi contratado como aprendiz na empresa Prinetti & Stucci, na sua cidade natal.

Lá participou no seu primeiro projeto automobilístico, um triciclo motorizado. A partir daí Bugatti passou rapidamente por várias empresas, até que fixou residência na cidade de Molsheim, na Alsácia francesa, onde conseguiu financiamento para desenhar o primeiro Bugatti: o tipo 10 de 1908. Desde o começo, mostrou um senso de estética e proporção até hoje impressionante.



Todos os componentes de seus veículos deviam, antes de funcionar bem, ter uma aparência impecável. Os motores sempre foram construídos em perfeitas formas geométricas, sem que nenhuma parte visível ficasse sem acabamento. Carros de competição tornar-se-iam o seu forte, visto que Ettore logo descobriu que os pilotos pagavam qualquer coisa por um veículo competitivo.

E, dotados de pára-lamas e pára-choques, esses modelos de competição tornaram-se excelentes carros de passeio para os mais abastados. Um dos carros mais conhecidos de Ettore foi o imortal tipo 35, sua primeira  obra-prima e um dos carros de proporções mais perfeitas já criados. Suas magníficas rodas de alumínio ficavam fora da carroceria, uma delicada e minimalista criação que escondia completamente seus componentes mecânicos e culminava com o hoje famoso radiador em forma de ferradura.


E não era só belo: equipado com um motor de oito cilindros em linha -- pela primeira vez na marca --, contava com comando no cabeçote e três válvulas por cilindro e girava extremamente alto para sua época. O  modelo 35 teve uma longa carreira, de 1924 até 1931. Durante esses anos, 600 unidades foram construídas, venceu 1.800 corridas, tendo feito a sua estreia no GP da França de 1924. Foi o transporte preferido dos playboys dos anos 20 (Isadora Duncan morreu em um deles, quando seu cachecol se prendeu a roda em movimento) e transformou a Bugatti numa marca respeitada e admirada.

Em 1927, um ano após a apresentação do Royale, que se tornou um divisor de águas dentro da empresa, a Bugatti inaugurava seu departamento próprio de carrocerias, onde Jean criaria obras nunca antes vistas. O Royale provou ser dificílimo de vender, situação que piorou com a quebra da bolsa de Nova York em 1929. Apenas seis carros foram criados em seis anos, de 1926 a 1931, mas três ficariam por décadas com a família  Bugatti. O primeiro a ser vendido (chassi 41111) foi o lendário roadster encomendado pelo milionário francês Armand Esders.


Em 1931, Ettore já havia deixado a operação da fábrica sob a responsabilidade de Jean, então com apenas 22 anos. Quando uma greve estourou em 1936, Ettore, um homem que dirigia a sua empresa como um senhor feudal, ficou extremamente abalado, a ponto de abandonar Molsheim e se exilar em Paris, onde passou a concentrar-se no lucrativo negócio de comboios. Os comboios Bugatti são uma história a parte: eram vagões integrados à locomotiva, altamente aerodinâmicos e propelidos por uma combinação de dois ou quatro motores de oito cilindros em linha do Royale. Bateram vários recordes de velocidade, mantiveram-se em operação até 1958 e garantiram a sobrevivência da empresa durante a crise dos anos 30. Enquanto isso, Jean ficou livre para inovar na "sua" fábrica. O tipo 57 é provavelmente o melhor dos Bugattis clássicos e o mais vendido, 710 unidades. Quando Ettore começou a criar carros, em 1899, Enzo Ferrari era um menino. William Lyons, da Jaguar, só criaria seu primeiro carro-esporte no final dos anos 30, quando a Bugatti já era uma marca de tradição. Mas em comum com esses dois pioneiros, uma infeliz história: todos criaram filhos com a intenção de torná-los seus sucessores.



E, tragicamente, todos os três perderam esses filhos antes que pudessem fazê-lo de modo completo. Jean Bugatti morreu em 1939, com apenas 30 anos de idade, num acidente ao testar uma versão do seu clássico tipo 57SC. Ettore nunca recuperou dessa dor. Em 1947, morreu com 66 anos. A Bugatti fechou as portas em 1951, efetivamente sem direção. Os outros herdeiros de Ettore (Roland e as duas filhas, L'Ébé e Lidia) tentaram continuar a fábrica, criando o tipo 101 (um 57 modificado), de 1951, e o 251 de competição, de 1956, com motor central-traseiro, mas sem êxito. Dirigentes da Volkswagen confirmaram, durante o Salão de Genebra, que o superesportivo Bugatti EB 16-4 Veyron chegaria ao mercado em 2003. A Bugatti que durante décadas construiu os carros mais fascinantes de todos os tempos renascia sob o controle da Volkswagen AG, 90 anos depois de Ettore Bugatti ter apresentado seu primeiro modelo em Molsheim, na Alsácia.


Sabias?

A sede da Bugatti Automobiles S.A.S. fica em Molsheim Château St. Jean, próximo a Estrasburgo, como no início da história da marca.

A personalidade de Ettore Bugatti é das mais fascinantes da história do automóvel, e, devido à sua versatilidade, relembra alguns caracteres bizarros e inteligentes da renascença, não domesticados pela dura rotina da técnica. Basta dizer que pelo menos durante 30 anos, o seu nome significou a personificação do espírito competitivo para os volantes desafiados por ele, um pilar de sabedoria técnica para todos os entusiastas europeus de corridas; uma portentosa habilidade mecânica como projetista, para os ricos consumidores de seus carros de prestígio firmado.

Tudo isso foi concebido por sua grande cabeça, sempre coberta por um chapéu de feltro, que era usado de acordo com seu humor. Inclinado, quando bem humorado; bem enterrado na cabeça quando estava agitado. De imaginação fértil permanente e incapaz de externar as irritações do quotidiano, a sua falta de cuidado era famosa... Com 16 anos, ele planejou, e construiu um triciclo revolucionário com dois motores; aos 46 anos, solicitou do governo italiano recursos necessários à construção do que poderia ser descrito como uma “espécie de submarino de ficção científica”, equipado com oito motores, e com o qual pretendia atravessar o Atlântico em 50 horas

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